PEDACINHOS DA HISTÓRIA GOIANA (n. 96)


NO MUNICÍPIO DE MINEIROS,
GOIANOS E GAÚCHOS EM CONFLITO


Nas décadas de 1970 e 1980, a migração de sulistas para as áreas rurais do Centro-Oeste se intensificou. Havia o incentivo do governo federal e o preço das terras era um atrativo especial. Um hectare de terra no Centro-Oeste podia valer um décimo do que valia na região Sul. Os migrantes chegavam em Goiás e nos outros Estados da região com recursos para investir, ânimo para produzir em excesso e vontade de lucrar muito. Eram os primórdios do agronegócio. Parte dos migrantes, rapidamente, passaram a investir também em atividades comerciais e estimularam ainda mais a economia de vários municípios.

Apesar desse estímulo econômico, o encontro de duas culturas gerou desentendimento, como é comum de acontecer. Em pesquisa sobre o município de Mineiros, Sandra Mara D'Avila Sandri abordou esse conflito. Era agronegócio contra costumes tradicionais. Os goianos diziam que os gaúchos enriqueciam e se tornavam arrogantes. Os gaúchos diziam que os goianos eram atrasados e indolentes.

“Goiano não gosta de trabalhar!”, diziam os sulistas.

"Não gosto do jeito que eles se comportam em festas na comunidade, se mostrando como superiores", reclamava uma goiana.

O Centro de Tradições Gaúchas conseguia harmonizar os dois lados quando promovia um evento em que era oferecido o café colonial sulista. Os goianos apreciavam e os gaúchos se sentiam valorizados. 

O desentendimento existia (e existe até hoje), mas os sulistas continuavam dispostos a produzir e prosperar na cidade de Mineiros, enquanto os goianos reconheciam que a chegada dos migrantes havia sido decisiva para desenvolver o município. Mais forte que o conflito era o interesse em conviver, justificando os versos do famoso Gaúcho da Fronteira em sua polca Prá Goiás:

Povo goiano agradeço
em nome da gauchada

Que aqui se sentem felizes
com a vida realizada

Irmanados na peleia
por esta terra abençoada

Puxam junto com os bois
Quem sabe amanhã ou depois
faço aí  minha morada.


No logotipo do CTG de Mineiros, uma bandeira sul-rio-grandense e
outra goiana. Símbolo da união entre os dois povos, apesar das tensões.


SAIBA MAIS:
Sandra Mara D'Avila Sandri
Sulistas em Mineiros: a recriação da identidade (Dissertação de Mestrado)

04.05.2022