PEDACINHOS DA HISTÓRIA GOIANA (n. 92)


O CONDE DE SÃO MIGUEL E O PRIMEIRO GRANDE
ESCÂNDALO DE CORRUPÇÃO DA HISTÓRIA GOIANA


Acusações pesadas foram lançadas sobre Álvaro José Xavier Botelho de Távora, o 4º conde de São Miguel, que foi o segundo governador colonial de Goiás. Sua situação era tão grave que em 1762 (quatro anos depois de concluído o seu governo), um desembargador do Rio de Janeiro foi encarregado de promover uma devassa na administração colonial goiana para apurar os possíveis desmandos. Eram 24 acusações.

Távora tinha motivos para estar aterrorizado. Dois de seus principais desafetos estavam em posições de alto poder no início da década de 1760. Em Lisboa, o conde de Oeiras (futuro Marquês de Pombal) era o Secretário de Estado de Negócios Interiores do Reino, ou seja, era o primeiro-ministro do rei D. José I. Agia como o homem de confiança do soberano e estava dotado de poderes especiais. No Rio de Janeiro, o conde dos Arcos chegou à posição de vice-rei do Brasil logo após governar Goiás. Távora dizia que Arcos, como governador, havia permitidos desmandos em Goiás. Transformou o vice-rei em seu inimigo, embora fossem cunhados.

A ojeriza do conde de Oeiras à família Távora era tamanha que deu origem ao histórico episódio conhecido como processo dos Távoras. O conde de São Miguel imaginava que poderia terminar enforcado, assim como aconteceu com vários de seus parentes em Portugal.

O desembargador Manoel da Fonseca Brandão promoveu a devassa em Goiás por dois anos. Das 24 acusações contra o conde de São Miguel, apenas uma se comprovou, relativa a tráfico de escravos (uma atividade não permitida aos governadores coloniais). O conde não foi condenado à forca, mas perdeu quase todo o seu prestígio. Não contava mais com a estima do rei e foi afastado da administração pública portuguesa pelo conde de Oeiras.

Na devassa de Goiás foram pronunciados também ouvidores, intendentes, provedores da fazenda real, tesoureiros e outros. Alguns foram presos, outros perderam quase todos os seus bens. Pode ser considerado o primeiro grande escândalo de corrupção da história goiana.

Távora preservou o título de conde. Os reis, afinal, eram cautelosos ao punir os nobres. Mesmo aqueles que perdiam a sua confiança e o seu apreço. O processo dos Távoras havia sido uma exceção e era melhor evitar novas ocorrências traumáticas daquele tipo.

A família Távora foi reabilitada depois de 1777, quando Maria I se tornou rainha de Portugal e afastou do poder os pombalinos (partidários do marquês de Pombal). A filha do conde de São Miguel, Margarida de Lancastre, ganhou da rainha o título de marquesa de São Miguel.


Brasão do conde de São Miguel, que saiu humilhado do
governo colonial de Goiás, mas manteve o título de nobreza.


SAIBA MAIS:
Nas teias da administração colonial: os governadores da capitania de Goiás (1749-1822)
Alan Ricardo Duarte Pereira e Cristina de Cássia Pereira Moraes
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06.04.2022