PEDACINHOS DA HISTÓRIA GOIANA (n. 76)


O BAZAR OIÓ E A
TRABALHADORA QUE LIA LIVROS DE PÉ


"Bazar Oió" era o nome de uma livraria que ganhou o status de pólo cultural da intelectualidade de Goiânia. Foi fundado em 1951 por dois irmãos cujos nomes começavam com a letra "o" (Olavo e Othelo Tormim) e essa é a razão do inusitado nome "oió". Othelo, depois, se afastou da livraria. Olavo resolveu mantê-la como proprietário único.

Ali eram realizados diversos eventos: lançamento de livros, exposições artísticas e debates sobre vários assuntos. Havia também um jornal, publicado mensalmente, de nome "Jornal Oió".

Grandes nomes passaram pelo local: Pablo Neruda, Cora Coralina, Bernardo Elis e Jorge Amado, entre outros.

A livraria permitia a livre leitura das obras à venda. Em uma tese de doutorado da Unicamp, da pesquisadora Orlinda Melo, está registrado o tocante relato de uma trabalhadora doméstica, chamada Sebastiana, que costumava ir ao Bazar Oió para ler livros de pé:

(...) eles deixavam um livro de cada lançamento sobre uma mesa. Quem quisesse podia ler esses livros lá. Eu "futricava" e lia outros da prateleira. Lia em pé, diante da prateleira, não gostava de conversar para não perder tempo, porque eu tinha que pegar meus filhos na escola. Nem sentia as dores nas pernas. Nem sentia fome.

Cheio de intelectuais e permitindo a livre leitura dos livros à venda, o Bazar Oió ganhou a desconfiança e a antipatia do Regime Militar. Pressionado pela censura, Olavo Tormin foi preso em 1969. Passou 63 dias encarcerado. Daí em diante, o número de clientes caiu e Olavo desanimou. O Bazar Oió foi fechado em 1974.


Jornal Oió anuncia que o prefeito de Goiânia sancionou, no
próprio Bazar Oió, uma lei de apoio à literatura. (1957)


O Bazar Oió lotado. Foto publicada no blog gelbcunb.blogspot.com.


SAIBA MAIS:
Bazar Oió e sua marca na história cultural de Goiânia
Lúcia Tormin Mollo
Link:  Artigo

15.12.2021