PEDACINHOS DA HISTÓRIA GOIANA (n. 100)


A INTRIGANTE FRASE EM UMA LEI DE 1919:
"SANHA GUERREIRA DO GENTIO GOIÁ"


A lei 650, de 1919, definiu o hino, a bandeira e o brasão do Estado de Goiás. O hino mudou. Foi substituído em 2001 por outro, de José Mendonça Teles (letra) e Joaquim Jayme (música). A bandeira ainda é a mesma (uma adaptação verde-amarela da bandeira dos Estados Unidos). O brasão (ou as "armas", como diz a lei) também continua igual.

Mas havia no texto da lei uma frase intrigante. O artigo 4.º falava do prato com aguardente (desenhado na parte de baixo do brasão) e dizia que foi usando dessa artimanha que Bartolomeu Bueno da Silva conteve, no século XVIII, a "sanha guerreira do gentio Goiá".

Sanha guerreira? Ao contrário: os Goiá ficaram conhecidos por sua brandura diante dos paulistas.

Diogo de Vasconcellos, autor de História antiga das Minas Gerais (1904), disse que os Goiá eram um povo "pacato". O padre Luiz Antônio da Silva e Souza, escrevendo em 1812, chamou a nação Goiá de "pacífica". E a lenda de Sumé dizia que ele, Sumé, o chefe dos Goiá, ordenou ao seu povo que buscasse fazer amizade com os paulistas, cuja chegada ao sertão já era prevista. Quando Apu, filho e sucessor de Sumé, decidiu se afastar daquela ordem, foi atacado e morto por outros Goiá. O sucessor de Apu restaurou a ordem de Sumé e recebeu os paulistas em suas terras com espírito amistoso e festa.

De onde, então, terá saído essa acusação de "sanha guerreira" dos Goiá, inscrita no texto da lei?


O brasão do Estado de Goiás se baseou em um modelo produzido por
Luiz Gaudie Fleury (sobrinho do padre Luiz Gonzaga Camargo Fleury,
presidente provincial de Goiás de 1837 a 1839).


SAIBA MAIS:
Os índios "Goyá", os fantasmas e nós
Antón Corbacho Quintela (UFG)
LINK: Artigo

Lei 650, de 30 de julho de 1919.  LINK: Lei


01.06.2022