NA CIDADE DE GOIÁS, UM
CASAL QUE ROMPEU CONVENÇÕES
Em 1886, casaram-se José do Patrocínio Marques Tocantins e Anna Francisca Xavier de Barros na cidade de Goiás. Era um casal que rompia convenções.
Ele era negro e ela era branca de família tradicional. Numa época em que a escravidão ainda era legalizada, um casamento como aquele era raríssimo e sofria ataques. A família de Anna Francisca não aprovou.
Depois de superar as pressões contra o casamento, os dois não passaram a ter uma vida discreta e acomodada. Ele escrevia artigos e editava jornais. Fundou um: O Publicador Goiano. Era um abolicionista engajado e um músico de competência reconhecida. Compôs a melodia do Hino Abolicionista Goiano (cuja letra era de Félix de Bulhões, o abolicionista mais conhecido de Goiás). Anna Francisca também escrevia artigos para jornais e ajudava na realização de saraus e tertúlias em sua própria casa.
No Publicador Goiano, Marques Tocantins colocou mulheres para trabalharem como tipógrafas, o que também era raro. Quando ele morreu, em agosto de 1889, a capa do jornal estampou em grandes letras a seguinte mensagem:
A José Marques Tocantins.
As thypographas compositoras do Publicador Goyano em homenagem a seu chefe.
Saudade e Gratidão.
O Publicador Goiano (11.08.1889)
Além disso, Anna Francisca se envolveu com o espiritismo. Participou das primeiras sessões realizadas na capital goiana, em 1886. Depois da morte do esposo, mudou-se para a povoação do Bacalhau e lá também participou de sessões espíritas, além de ser professora. É reconhecida como uma das precursoras do espiritismo em Goiás.
Aquele foi, realmente, um casal que rompeu convenções.
José do Patrocínio Marques Tocantins e
Anna Francisco Xavier de Barros Tocantins.
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07.07.2021