PEDACINHOS DA HISTÓRIA GOIANA (n. 41)


VALENTÕES E JAGUNÇOS:
CULTURA DA VIOLÊNCIA E DO TEMOR EM GOIÁS


Nas fazendas de criação de gado de Goiás, durante o século XIX e início do século XX, havia vários tipos humanos: o fazendeiro, o vaqueiro, o camarada, o alugado. O fazendeiro era o grande patriarca, tratado com muito respeito (e temor) pela comunidade local e considerado o seu protetor. O vaqueiro estava logo abaixo dele. Era seu homem de confiança e devia fazer tudo funcionar a contento na fazenda. Os "camaradas" eram os trabalhadores braçais que lidavam com o gado e deviam obediência ao vaqueiro.

Os "alugados" eram trabalhadores temporários. Como o próprio nome diz, alugavam o seu serviço, ou seja, recebiam um pagamento por uma jornada de trabalho. Eram poucos, já que dinheiro era algo raro na pecuária goiana daquela época.

Outro personagem era o "valentão", que percorria o sertão praticando banditismo e assassinatos. Quando um valentão se colocava sob a proteção de um fazendeiro que o sustentava, tornava-se seu "jagunço" e lhe prestava serviços ilegais e violentos. Matar alguém que não se sujeitasse ao seu poder de patriarca da comunidade, por exemplo. Em um caso assim, ocorrido no norte de Goiás, em 1889, quatro jagunços fizeram uma vítima, sendo que um deles matou o desafeto do fazendeiro e outro, chamado Manoel Orelha, cortou-lhe uma das orelhas. O nome desse jagunço talvez indique que tinha o costume mórbido de arrancar essa parte do corpo das vítimas.

A violência, para esses homens, era hábito e profissão. Quando o vaqueiro da fazenda perguntou aos jagunços como tinham coragem de matar à luz do dia, um deles respondeu que "em breves dias o sino havia de dobrar para outro”.


Arrancar orelhas para se mostrarem
brutos. Assim eram os valentões.
Ilustração: Rodrigo Rosa (revista Galileu)


SAIBA MAIS:
Vaqueiros e coronéis no Vale do Alto Tocantins (1889-1893): relato de um crime anunciado
Estefânia Knotz Fraga (PUC-SP) e Rita de Cássia Melo (UFT)
Link: Texto 

14.04.2021